Balanço histórico da Guerra da Coreia – por Dermot Hudson


Em 11 de julho de 2019, o Centro de Estudos da Política Songun do Brasil, em conjunto com o Centro de Estudos da Ideia Juche – Brasil e com a Associação de Amizade com a Coreia do Reino Unido, realizou, na UERJ, um importante seminário com a presença do Dr. Dermot Hudson da Inglaterra. O evento, chamado «Guerra da Coreia: revisitando a “guerra esquecida”», reuniu muitas pessoas em um dia histórico para o Rio de Janeiro e para o Brasil em que foi possível entender profundamente mais detalhes sobre a Guerra da Coreia de 1950-1953 que possui pouco ou nenhum livro ou bibliografia em português sobre.

Você pode ler o informe completo do evento AQUI.

O Centro de Estudos da Política Songun do Brasil publica agora na íntegra o discurso do Dr. Dermot Hudson. O discurso foi traduzido por Alessandra Brittes, da Revista Intertelas.

Confira:


Discurso para o Seminário Guerra da Coreia: revisitando a “guerra esquecida”.

Dr. Dermot Hudson*

Tradução: Alessandra Brittes (Revista Intertelas)

Rio de Janeiro, 11 de julho de 2019

Obrigado por me convidar para falar no seu seminário. É uma grande honra estar aqui com os camaradas e amigos do Centro de Estudos da Política Songun do Brasil e uma grande honra estar na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Hoje vou falar sobre a Guerra da Coreia ou, como é chamada na Coreia Popular, a Guerra de Libertação da Pátria. Em 16 dias, farão 66 anos desde que o general norte-americano Mark Clark assinou o Acordo de Armistício Coreano e cansadamente declarou: “Ao executar as instruções de meu governo, ganhei a distinção nada invejável de ser o primeiro comandante dos Estados Unidos na História a assinar um armistício sem vitória”. O propósito da minha fala neste seminário é responder duas ideias falsas sobre a Guerra de Libertação da Pátria. A primeira e maior que está contida nos livros de História e repetida inúmeras vezes é que a Coreia do Norte foi responsável pela eclosão da guerra. A segunda é que a guerra não foi uma derrota para os EUA. É claro que existem outros mitos e mal-entendidos, alguns que adoram grandes países menosprezam os esforços autossuficientes do povo coreano, liderados pelo Grande Generalíssimo Kim Il Sung e atribuem a vitória da RPDC a outros países. No entanto, hoje vou me concentrar nos dois grandes mitos.

Eu acho que é relevante começar apontando que a Coreia é um país e não dois. Antes de 1945, não havia Coreia do Norte ou do Sul. A Coreia, desde os tempos antigos, era uma nação e um povo. Em 1945, um coronel americano, um Dean Rusk, que mais tarde tornou-se uma figura importante na política dos EUA, traçou uma linha com uma régua e um lápis em um mapa da Coreia, no Paralelo 38, desconsiderando fronteiras naturais como rios e condados e províncias. As tropas dos EUA invadiram a Coreia do Sul no dia 8 de setembro de 1945 e criaram um Estado fantoche. Assim, a Coreia, uma nação pacífica, unida e homogênea, foi dividida pelas ações dos imperialistas ianques. É claro que é impossível invadir o seu próprio país. No entanto, a questão de quem provocou a Guerra da Coreia é uma questão chave, pois ainda é usada para demonizar a Coreia do Norte e foi invocada como pretexto para os EUA lançarem uma das guerras mais bárbaras da História. Uma guerra em que os EUA mataram 4,2 milhões de coreanos.

Os imperialistas norte-americanos, líderes do imperialismo mundial e dos reacionários internacionais, provocaram uma guerra na Coreia no dia 25 de junho de 1950, instigando seus fantoches sul-coreanos a atacar a jovem República Popular Democrática da Coreia. Os imperialistas dos EUA estavam famintos por lucros e conquistas. Os imperialistas dos EUA travaram uma guerra injusta e agressiva contra o povo coreano. Os imperialistas dos EUA lançaram uma guerra de conquista contra a Coreia do Norte, uma guerra para destruir o sistema democrático popular baseado no ideal Juche na RPDC, bem como para destruir o socialismo na Ásia e no mundo.

Os EUA há muito cobiçavam a Coreia. No século 19, eles enviaram várias expedições à Coreia. Em 1866, o “General Sherman” dos EUA navegou o Rio Taedong acima, em direção a Pyongyang, mas foi destruído devido à luta do povo local liderado por Kim Ung U (bisavô do Presidente Kim Il Sung). Eles enviaram outros exploradores para a Coreia e cometeram saques.

Os EUA concluíram o chamado “Tratado Coreano dos EUA” com o governo feudal coreano em 1882. Os EUA apreenderam as minas de ouro na Coreia. Embora, no início do século 20, a Coreia se tornasse uma colônia japonesa, os ianques detinham as concessões de mineração de ouro no país. Os EUA eram, na verdade, contra a independência da Coreia. Durante as negociações em Teerã, Yalta e Potsdam, entre as três grandes potências, os EUA propuseram que a Coreia fosse colocada sob “tutela” por 40 anos. A tutela seria essencialmente apenas outra forma de colonialismo.

Depois que a Coreia foi libertada, em 1945, as tropas dos EUA ocuparam a Coreia do Sul no dia 8 de setembro, quase três semanas após o Japão ter sido derrotado em 15 de agosto. Inicialmente eles governaram através de uma administração militar direta e depois através do regime fantoche de Syngham Rhee. Rhee era um déspota fascista, corrupto e odiado pelo povo sul-coreano. Rhee foi desacreditado por ter desviado fundos do movimento de independência coreano na década de 1920. Rhee era fanaticamente anticomunista. Eis o que um escritor americano disse sobre Syngham Rhee: “ele é dois séculos antes do fascismo – um verdadeiro Bourbon.”

Os EUA tomaram a terra na Coreia do Sul que pertencia aos japoneses e se tornou o maior senhorio do sul da Coreia. Na Coreia do Sul, os Comitês Populares foram dissolvidos pelas tropas de ocupação dos EUA, o Partido Comunista foi banido. Esquerdistas e patriotas foram brutalmente reprimidos. As tropas de Rhee, juntamente com as tropas dos EUA, reprimiram revoltas na Ilha de Jeju, matando pelo menos 30.000 pessoas, e o motim do exército em Ryosu.

A República Popular Democrática da Coreia foi fundada em 9 de setembro de 1948. Os EUA consideravam-na como um espinho, um incômodo em seu lado, desde o início. Os EUA não queriam um regime socialista no norte da Coreia. Além disso, a Península Coreana tinha uma posição estratégica e era a cabeça de ponte no nordeste da Ásia e, de fato, todo o continente asiático. Ao conquistar a RPDC, os EUA teriam tropas na fronteira da República Popular da China e da URSS. A existência da Coreia do Norte bloqueou o trampolim dos EUA no nordeste da Ásia. A vitória da Revolução Chinesa deu um novo ímpeto aos EUA para se moverem militarmente contra a Coreia do Norte.

Naqueles dias, ao invés de se referir à “contenção” do comunismo, os EUA falaram sobre a “reversão” do comunismo. John Foster Dulles, Secretário de Estado dos EUA, era um conhecido arquiteto dessa política. Dulles tinha ganho muito dinheiro por meio de negócios com o Partido Nazista alemão nos anos 1930. Dulles escreveu um livro chamado “Guerra ou Paz”, defendendo a “libertação” dos países socialistas. Ele disse: “devemos deixar claro (…) na Europa Oriental e na Ásia, que não aceitamos o status quo (…) e a eventual libertação é um elemento essencial e duradouro, parte da nossa política externa”. Em outras palavras, os objetivos dos EUA eram esmagar o socialismo por meio da força, seja força militar direta, ou outros tipos de força.

Internamente, os EUA baniram o Partido Comunista e desencadearam uma onda de histeria anticomunista conhecida como Macarthismo, na qual até mesmo liberais não comunistas foram perseguidos.

As opiniões dissidentes foram esmagadas com as pessoas sendo expulsas de empregos, difamadas na mídia e, em alguns casos, presas (no exemplo mais extremo, Ethel e Julius Rosenberg, dois comunistas americanos, foram executados com acusações forjadas de espionagem).

Os EUA embarcaram em um programa de aumento do gasto militar. Externamente, tornou-se muito expansionista, estabelecendo bases militares em todo o mundo, inclusive na Coreia do Sul.

A RPDC, uma democracia jovem no Extremo Oriente, era vista pelos formuladores de políticas dos EUA como o principal campo de testes para a “reversão”. Os imperialistas dos EUA teriam melhores chances de ganhar uma guerra física contra o mundo socialista na Ásia do que tentar travar uma guerra na Europa contra a União Soviética. Pois, na Europa, os soviéticos tinham uma zona de amortecimento entre eles e os EUA e seus aliados. Se os EUA e a OTAN destruíssem militarmente a Alemanha Oriental, ainda assim teriam que invadir a Polônia antes que pudessem colocar tropas na fronteira da URSS, mas invadindo a RPDC poderiam ter tropas nas fronteiras da União Soviética de uma só vez. Tal perspectiva deve ter sido muito tentadora para os maníacos da guerra dos EUA.

Os imperialistas norte-americanos que decidiram tomar a República Popular Democrática da Coreia como o primeiro alvo de ataque para realizar o sonho selvagem da dominação mundial, após a ocupação ilegal da Coreia do Sul, elaboraram um plano para a guerra na Coreia e fizeram todos os preparativos para ela. Eles armaram desesperadamente o exército de marionetes sul-coreano com meios de guerra modernos e elevaram suas capacidades de guerra para usá-las como a força de choque na guerra de agressão contra a RPDC.

De acordo com um documento oficial divulgado pelo Congresso dos EUA, eles entregaram mais de 145.000 rifles, cerca de 2.000 metralhadoras e submetralhadoras, mais de 2.000 peças de vários calibres, 4.900 veículos ímpares, 79 navios de guerra e outros somente para o exército fantoche sul-coreano em 1949. É notável que a marinha marionete sul-coreana foi amplamente expandida.

O número de tropas fantoches sul-coreanas que estavam armadas com tais equipamentos e meios de guerra e treinados da maneira americana chegou a mais de 100.000 em setembro de 1949. As tropas fantoches sul-coreanas eram controladas pelos EUA através do “Grupo Consultivo Militar Americano” na Coreia do Sul. Em 26 de janeiro de 1950, os EUA concluíram o Tratado de Defesa Mútua EUA-Coreia do Sul. Em 14 de abril de 1950, uma diretiva secreta do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, a NSC 68, autorizou o início da Guerra da Coreia.

Os imperialistas dos EUA posicionaram a maior parte do exército de marionetes sul-coreano no front, ao longo do Paralelo 38, e incessantemente perpetraram provocações armadas contra a Coreia do Norte. Em 1949, o exército fantoche sul-coreano invadiu áreas da RPDC, como o Monte Songak, o Monte Unpha e outras áreas, causando muitos danos e vítimas. A RPDC foi atacada em um total de 2.617 vezes. Os EUA e a Coreia do Sul construíram ou expandiram bases aéreas, portos, estradas e outros na Coreia do Sul de uma forma extensiva. Ao mesmo tempo, elaboraram um plano predeterminado para ocultar a agressão armada, após a eclosão da Guerra da Coreia, em uma tentativa de transferir a responsabilidade pela provocação à guerra para RPDC.

O Secretário de Estado dos EUA, John Foster Dulles, o principal defensor e autor da estratégia anticomunista “Reversão” dos EUA, visitou a Coreia do Sul em junho de 1950, poucos dias antes do início da guerra. Sua visita não pode ter sido uma coincidência. Isso é reforçado pelo fato de que Dulles chegou a visitar as áreas da linha de frente. Dulles encontrou-se com o desacreditado governante fantoche sul-coreano Syngham Rhee. Rhee falou várias vezes publicamente sobre “marchar para o norte” e reunificar a Coreia. Dulles levou o ministro da defesa sul-coreano consigo para inspecionar o Paralelo 38. Isso foi 6 dias antes do início da guerra. Dulles disse ao exército de marionetes sul-coreanos: “nenhum inimigo forte, qualquer que seja, poderia opor-se a vocês. Mas, espero que se esforcem cada vez mais, porque não está tão longe o dia que terão de mostrar o seu poder, a sua força para o seu próprio bem”.

Dirigindo-se a “Assembleia Nacional” marionete sul-coreana ele disse: “Vocês não estão sozinhos. Vocês nunca estarão sozinhos enquanto continuarem desempenhando dignamente a parte de vocês no grande projeto pela liberdade dos seres humanos”. O que isso significou? Foi basicamente a luz verde para as marionetes sul-coreanas inflamarem a Guerra de Libertação da Pátria. Depois de visitar a Coreia do Sul, Dulles parou em Tóquio e se reuniu com o General Bradley e o General Douglas McArthur, bem como o Secretário de Defesa dos EUA Johnson. Mais uma vez esta reunião não pode ter sido uma coincidência. No dia 22 de junho, Dulles declarou, de maneira um tanto codificada e enigmática: “os Estados Unidos em breve tomarão algumas medidas positivas”. Era evidente que a reunião era para finalizar a provocação da Guerra da Coreia.

Um livro de especialistas ex-soviéticos e de um ex-comandante da RPDC, chamado “Ecos da Guerra da Coreia”, aponta que em 1950, o exército de marionetes sul-coreano tinha 95.000 soldados, a maioria dos quais foram posicionados ao longo do Paralelo 38, ou próximo a ele, enquanto a Coreia do Norte tinha cerca de 74.000 tropas. Alguns números, na realidade, ampliaram o tamanho do exército fantoche de Syngham Rhee para 150.000 tropas. Isso significaria que eles superavam em número do Exército Popular da Coreia (EPC) em 2 para 1. A população da Coreia do Sul era quase o dobro da RPDC, então teria sido difícil para a Coreia do Norte “invadir” o sul. A população dos EUA era quase 20 vezes maior do que a da RPDC e o seu território é muitas vezes superior à da RPDC. Os EUA saíram vitoriosos na Segunda Guerra Mundial e venceram muitas guerras.

A RPDC era um país jovem que acabara de criar forças armadas regulares e construir fábricas de munições. A RPDC escolheria assumir o poder do “Grande Império Americano”? A resposta é não. Também é inconcebível que a União Soviética, que havia perdido 20 milhões de pessoas durante a Segunda Guerra Mundial, e a recém-fundada República Popular da China optassem por apoiar uma guerra da RPDC.

O próprio McArthur disse que na época da eclosão da Guerra da Coreia a RPDC não havia mobilizado completamente seu exército. O relatório do comando de McArthur no dia 30 de julho de 1950 afirma que apenas 6 divisões do EPC foram mobilizadas no dia em que a guerra estourou. Outras fontes como o Capitão do Exército Britânico Julian Tunstall apontaram que “em 25 de junho o exército de Rhee tinha seis divisões totalmente equipadas logo abaixo ou bem perto do Paralelo 38… Até agora, pode-se julgar que o EPC tinha duas divisões de força de combate a menos no Paralelo 38 ou próximo dele”.

Outras fontes, como a CIA e os serviços de inteligência sul-coreanos, afirmam que não havia provas, antes de 25 de junho de 1950, de que a Coreia do Norte tivesse preparado forças para um ataque no sul. Ri Song Ga, ex-comandante da 8ª Divisão do exército de marionetes sul-coreanos, afirmou que “nós tivemos que ir para a batalha no amanhecer de 25 de junho”. No dia 23 de junho, forças sul-coreanas de marionetes iniciaram um bombardeio de artilharia nas áreas ao norte do Paralelo 38. No início da manhã de 25 de junho, as forças sul-coreanas, sob o comando do Grupo Consultivo Militar Americano, iniciaram o ataque à Coreia do Norte. O 17° Regimento do exército de marionetes sul-coreano avançou em Taetan e Pyoksong e a 1ª Infantaria atacou na área de Kaesong. Eles avançaram 12 km no território da RPDC. A Coreia do Norte exigiu que parassem de uma vez, mas foi ignorada, então a República Popular Democrática da Coreia lançou uma contraofensiva. Deve-se notar que a Coreia do Norte só lançou a contraofensiva após advertir a Coreia do Sul para suspender seu ataque.

O “New York Tribune” de 26 de junho de 1950 informou que “as tropas sul-coreanas atravessaram o Paralelo 38, que forma a fronteira, para capturar a cidade industrial de Haeju, ao norte da linha”. A própria rádio sul-coreana informou que suas tropas capturaram Haeju. Claramente, teria sido impossível aos sul-coreanos capturá-la, a menos que tivessem atacado primeiro. O conhecido jornalista norte-americano John Gunther escreveu em seu livro, “Riddle of McArthur”, que um oficial da equipe de funcionários dos EUA em Tóquio no dia 25 de junho foi chamado ao telefone e voltou e sussurrou: “uma grande história acabou de ser publicada. Os sul-coreanos atacaram a Coreia do Norte”.

Cerca de 650 mulheres e crianças dos EUA foram evacuadas pelo navio norueguês Reinford às 3h da manhã. As fontes americanas descrevem que a guerra teria começado às 6h da manhã, então como os EUA saberiam com antecedência para planejar a evacuação de seus cidadãos? O próprio Choe Dok Sin, ex-comandante do Exército Sul-coreano, Ministro das Eelações Exteriores Sul-coreano e Embaixador Sul-coreano na ONU, afirmou que viu a ordem secreta de Syngham Rhee (ditador-fantoche sul-coreano) para começar a guerra. Os EUA exigiram uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU. Este foi realizado sem a presença da União Soviética, nem da República Popular da China, que, naquele período, foi mantida fora de seu assento legítimo. Ninguém da RPDC foi autorizado a apresentar o seu caso perante o Conselho. Em vez disso, o Conselho de Segurança publicou uma resolução culpando a Coreia do Norte por iniciar a guerra e autorizou o uso da força de nações membros da ONU. Efetivamente, o Conselho de Segurança da ONU era apenas um tribunal canguru para o imperialismo dos EUA. Basicamente, era uma justificativa legal para os Estados Unidos envolverem vários outros Estados em guerra. A resolução em si era realmente contrária à carta da ONU que estipula que a organização não poderia intervir nos assuntos internos de nações soberanas; no caso da Península Coreana, havia dois governos estabelecidos, então qualquer conflito não era um conflito entre diferentes nações, mas essencialmente uma guerra civil entre governos rivais, de modo que a ONU estava intervindo a favor de um lado.

A prova apresentada para culpar a Coreia do Norte foi simplesmente um telegrama do embaixador dos EUA em Seul, John S. Muccio. Este telegrama é um documento muito subjetivo e incompleto que se refere a “relatórios”, e etc. Como embaixador dos EUA na Coreia do Sul e o embaixador do principal beligerante na Guerra da Coreia, Muccio dificilmente poderia ter sido uma testemunha objetiva e imparcial! Mais ao ponto, ele não estava no Paralelo 38 naquele dia, portanto, sua assim chamada “informação” nada mais era do que reivindicações recicladas dos sul-coreanos e militares dos EUA. Na verdade, acredita-se que o “telegrama” de Muccio foi preparado com antecedência e devidamente usado como evidência.

No entanto, outro indício de quem deu início à Guerra da Coreia foi o fato de os EUA admitirem que sua “resolução da ONU” havia sido preparada antecipadamente. O Secretário de Estado adjunto John D. Hickerson disse: “nós tínhamos o esqueleto de uma resolução, mas feita de uma forma bastante preliminar”. Como os diplomatas norte-americanos saberiam que uma guerra começaria na Coreia e preparariam uma resolução? Além disso, a velocidade com que a ONU, que se deslocava lenta, morosa e burocraticamente, rapidamente agiu para convocar uma reunião e levar a resolução adiante é algo bastante surpreendente, especialmente quando se considera que estavam na era anterior à internet, e-mail e Skype. Normalmente, pode levar dias, semanas e até meses para obter uma resolução por meio do Conselho de Segurança da ONU. Em uma audiência do Congresso, os EUA admitiram que suas forças armadas entraram em ação antes que a resolução fosse aprovada.

Os EUA lançaram grandes contingentes de forças armadas para a guerra, incluindo as forças armadas de seus países satélites. Para minha eterna vergonha, a Grã-Bretanha enviou tropas para lutar contra o povo coreano do lado dos EUA. Jovens britânicos eram basicamente bucha de canhão para o imperialismo dos EUA. É significativo que o Reino Unido tenha lutado não só ao lado do imperialismo dos EUA, mas também do Apartheid Sul-africano, dos esquadrões da morte da Colômbia, da Grécia fascista, da Etiópia de Haile Selaissie e de outros regimes muito reacionários, contra governos independentes, progressistas, democráticos e anti-imperialistas. Assim, a Guerra da Coreia foi totalmente reacionária, impedindo a luta de libertação do povo coreano e a reunificação da Coreia.

De fato, o papel britânico na Coreia nos últimos 150 anos tem sido muito vergonhoso. Foi a Grã-Bretanha que secretamente ajudou o Japão a invadir e colonizar a Coreia. O governo de Clement Attlee, que é elogiado em alguns lugares, na verdade foi responsável por render a independência da Grã-Bretanha, levando o Reino Unido para a OTAN e também expurgou comunistas do serviço público, sendo um cúmplice voluntário na agressão contra o povo coreano. Attlee enviou jovens para lutar na Coreia contra o Exército Popular da Coreia comandado pelo Grande Líder Marechal Kim Il Sung. A fim de pagar o custo de envio das tropas para a Coreia, as taxas de prescrição foram aumentadas.

Entre as forças britânicas enviadas para a frente coreana estavam os Royal Ulster Rifles, que tinham reprimido o povo irlandês e cometido muitas atrocidades durante as contendas com a Irlanda do Norte. O exército britânico reteve a reunificação da Coreia na década de 1950 e também reteve a reunificação da Irlanda.

O segundo mito é que os EUA não foram derrotados. A razão pela qual a Guerra da Libertação da Pátria ou a Guerra da Coreia é frequentemente chamada de “guerra desconhecida” é em razão de os EUA não gostarem de reconhecer a sua derrota. O historiador militar de extrema-direita e extremamente anticomunista dos EUA, Bevin Alexander, que foi oficial do Exército dos EUA durante a Guerra da Coreia, referiu-se à Guerra de Libertação da Pátria como “a primeira guerra que perdemos”. A Guerra de Libertação da Pátria foi uma luta verdadeiramente hercúlea e titânica que viu o povo coreano derrotar o imperialismo dos EUA pela primeira vez na história do mundo. Foi uma luta de Davi contra Golias.

Quando a guerra estourou no dia 25 de junho de 1950, as chances de sobrevivência da jovem Coreia, não incluindo a chance de derrotar o imperialismo dos EUA, pareciam muito pequenas, porque os EUA tinham uma população 20 vezes maior que a RPDC e um território quase 100 vezes maior que o da RPDC. Além disso, os EUA travaram mais de 100 guerras de agressão e emergiram como vitoriosos na Segunda Guerra Mundial. Como parte das forças Aliadas, os EUA enfrentaram o Japão Imperial, a Alemanha Nazista e a Itália Fascista. Os EUA surgiram como o líder de seu próprio imperialismo. Tinha uma enorme máquina militar e um império global de bases militares em todo o mundo. Os EUA foi e é o baluarte do colonialismo moderno, gendarme internacional e estrangulador da independência e libertação nacional. Ainda, a RPDC não só teve que lutar contra os EUA, mas também contra as forças marionetes sul-coreanas, que tinham exércitos de 15 países satélites dos EUA e os japoneses lutando secretamente na Coreia usando os uniformes do exército fantoche sul-coreano.

O povo coreano liderado pelo Grande Líder revolucionário e herói nacional Marechal Kim Il Sung, um verdadeiro gênio estratégico militar e brilhante comandante de ferro, sempre vitorioso, enfrentou uma feroz luta anti-imperialista, luta anti-EUA contra o imperialismo do próprio EUA, e contra as forças aliadas dos norte-americanos de reação internacional. Foi uma feroz luta de classes contra os inimigos do povo. Os EUA travaram uma guerra verdadeiramente racista e genocida. A ordem dos comandantes dos EUA era atirar em todos e em tudo que levava a cor branca e a maioria dos civis coreanos usava branco. Não foi coincidência que George Lincoln Rockwell, o fundador e líder do Partido Nazista Americano, serviu como tenente-comandante das forças imperialistas dos EUA durante a guerra.

A Guerra de Libertação da Pátria foi uma guerra justa de libertação nacional, bem como uma luta feroz anti-imperialista e uma luta de classes contra os inimigos do povo. Foi uma guerra sagrada para a reunificação coreana. Foi ao mesmo tempo uma guerra para defender a independência e a liberdade do povo coreano. Também foi uma guerra para defender a paz e a segurança e o posto avançado oriental do campo socialista. Como poderia um pequeno país como a Coreia do Norte lutar contra os EUA e seus fantoches e vassalos? A resposta estava na poderosa liderança revolucionária do Marechal Kim Il Sung, na Ideia Juche e na Ideia Songun, bem como no heroico espírito de auto sacrifício do povo coreano e do jovem Exército Popular da Coreia. O povo coreano lutou no espírito de autoconfiança e fortaleza guiados pelo ideal Juche. O Grande Líder Marechal Kim Il Sung declarou: “Devemos resolver nossos problemas não importa quem está nos ajudando e que ajuda recebemos. A vitória deve ser conquistada pela nossa força”. Os esforços do povo coreano concentraram-se principalmente em derrotar os agressores imperialistas dos EUA.

Algumas pessoas gostam de chamar a atenção para a assistência internacionalista dada aos coreanos, em particular, pela China e pela URSS. Claro que é verdade que tal assistência foi dada e não apenas por grandes países, mas por todos os países socialistas. Além disso, nos países capitalistas, a classe trabalhadora e o movimento revolucionário opuseram-se à guerra, realizando manifestações e greves. No Reino Unido, o Partido Comunista da Grã-Bretanha e o “trabalhador do dia-a-dia” opuseram-se à guerra, assim como alguns parlamentares trabalhistas, como o famoso parlamentar galês S. O. Davies. Mesmo nos EUA houve protestos contra a guerra. Nos países coloniais oprimidos, os povos revolucionários intensificaram suas lutas anti-imperialistas. Em particular, as forças revolucionárias da Malásia e da Tailândia intensificaram sua luta armada. No entanto, a melhor ajuda e assistência internacionalista não tem efeito, a menos que as forças revolucionárias de uma dada unidade unam-se e travem uma luta poderosa. A história conhece muitos exemplos de revoluções que receberam assistência irrestrita, mas deram em nada porque as forças revolucionárias internas não eram fortes o suficiente e a faltou qualidade de liderança.

O Grande Líder, o camarada Kim Il Sung, sempre enfatizou que o resultado da guerra não é determinado apenas por armas, mas sim pela ideologia daqueles que detêm as armas. Durante a Guerra de Libertação da Pátria foram aplicadas táticas totalmente novas baseadas na Ideia Juche. Por exemplo, o Exército Popular da Coreia desenvolveu uma guerra de túneis, um novo conceito. Em um artigo, o escritor coreano Han Ho Suk escreveu que “a experiência da Coreia do Norte na escavação de túneis para a guerra foi demonstrada durante a Guerra do Vietnã. A Coreia do Norte enviou cerca de 100 especialistas em guerra de túneis para o Vietnã para ajudar na escavação dos túneis de 250 km das tropas do Vietnã do Norte e Vietcong no Vietnã do Sul. Os túneis foram fundamentais para a vitória vietnamita”.

No dia 25 de junho de 1950, de madrugada, as armas ressoaram e jatos de fogo dispararam. As marionetes sul-coreanas avançaram quilômetros dentro do território da Coreia do Norte. O exército de marionetes sul-coreanos, sob o comando direto do Grupo Consultivo Militar do EUA, lançou uma invasão armada ao longo do Paralelo 38 em um plano de guerra pré-concebido. As marionetes sul-coreanas iniciaram sua agressão contra a Coreia do Norte durante toda a extensão do Paralelo 38, penetrando um ou dois quilômetros de profundidade nas direções de Haeju, Kumchon e Cholwon. As marionetes sul-coreanas gabaram-se em suas transmissões radiofônicas que capturaram Haeju (o que nega categoricamente o relato dos historiadores ocidentais e sul-coreanos que a Coreia do Norte tenha atacado primeiro). O destino da Coreia do Norte estava na balança, o que ela poderia fazer contra a investida das marionetes sul-coreanas, apoiadas pela maior potência militar da História? O Grande Líder Marechal Kim Il Sung convocou o encontro do Gabinete da RPDC e exigiu que as marionetes sul-coreanas parassem de agredir imediatamente. Os bonecos sul-coreanos recusaram-se a fazê-lo. Assim, o Grande Líder Marechal Kim Il Sung, declarando que os ianques tinham julgado mal os coreanos, ordenou que o Exército Popular da Coreia e as Forças Populares de Segurança da Coreia passassem para uma contraofensiva imediata.

Assim, o EPC e as Forças Populares de Segurança da Coreia (FPSC) passaram a uma contraofensiva imediata, empurrando as marionetes sul-coreanas de volta. Isso foi algo sem precedentes na História da guerra! Geralmente, quando um Estado é atacado ou invadido por outro Estado, leva algum tempo até adotar uma postura defensiva e resistir à agressão. No entanto, graças ao pensamento e estratégia militar revolucionários originais, oriundos da Ideia Juche, as forças da RPDC puderam lançar uma contraofensiva decisiva, após parar as marionetes sul-coreanas nos seus postos e não lhes permitirem espaço algum para respirar. O Grande Líder Marechal Kim Il Sung acumulou preciosa experiência durante os 15 anos de luta armada contra os imperialistas japoneses. Ele desenvolveu táticas militares originais orientadas pelo ideal Juche, algo que nunca havia sido visto antes.

No terceiro dia da guerra, 28 de junho, Seul, a capital das marionetes sul-coreanas, foi libertada pelo EPC. Isso foi desastroso para as marionetes sul-coreanas que se orgulhavam de “tomar café em Haeju, almoçar em Pyongyang e jantar em Sinuiju”. Contudo, não foi o que aconteceu. Em vez disso, a RPDC vitoriosa dizimou as forças fantoches sul-coreanas e libertou a Coreia do Sul. As odiadas máquinas reacionárias coloniais foram destruídas e a terra foi distribuída gratuitamente aos camponeses. Os EUA começaram a bombardear fortemente toda a Coreia e atraíram forças de guerra de alguns países satélites. Isso não impediu o avanço do Exército do Povo Coreano, orientado pelo ideal Juche, comandado pelo Grande Líder Marechal Kim Il Sung. O EPC destruiu os ianques em Osan. Barcos torpedeiros da Marinha do EPC afundaram cruzadores e contratorpedeiros americanos.

O Grande Líder, o Marechal Kim Il Sung, comandou pessoalmente a batalha de libertação de Taejon. A 24º Divisão dos EUA foi totalmente destruída na batalha de Taejon, em 20 de julho, no que foi o 20º dia após sua chegada à Coreia do Sul. O jovem Exército Popular prendeu o próprio Dean, que foi o primeiro comandante da divisão das forças de agressão imperialistas dos EUA a ser feito prisioneiro na Guerra da Coreia. Foi um grande feito do heroico Exército Popular da Coreia ter capturado um general ianque. No primeiro estágio da guerra, o Exército Popular da Coreia liberou 90% do território da Coreia do Sul e 92% da população. Uma realização verdadeiramente notável que foi alcançada pelas forças armadas revolucionárias autossuficientes da Coreia Popular, sob o comando do Grande Líder Marechal Kim Il Sung.

Os EUA lançaram na guerra números sem precedentes de tropas e quantidades de materiais. Na verdade, 73 milhões de toneladas de materiais de guerra foram usados na guerra.

A guerra durou até 27 de julho de 1953, quando os EUA se ajoelharam e assinaram o Acordo de Armistício. Durante os três anos da Guerra de Libertação da Pátria, os imperialistas dos EUA perderam mais de 1.567.000 homens, incluindo mais de 405.000 das suas próprias forças armadas e uma enorme quantidade de equipamentos de combate e suprimentos de guerra, incluindo mais de 12.200 aeronaves, mais de 560 navios de guerra e navios em geral, mais de 3.200 tanques e veículos blindados de diferentes tipos, mais de 13.350 caminhões e 7.690 peças de artilharia de vários tipos. A perda sofrida pelos imperialistas dos EUA foi quase 2,3 vezes maior do que a que sofreram nos quatro anos da Guerra do Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial. Até mesmo estatísticas oficiais dos EUA mostraram que durante cada um dos três anos da Guerra da Coreia, eles perderam o dobro do número de soldados perdidos em cada ano da Guerra do Vietnã.

O ex-secretário de Estado dos EUA Marshall disse que “o mito foi destruído. Nós não somos um país forte como os outros pensavam”. O infame senador J. R. McCarthy admitiu que “sofremos uma séria derrota na Coreia”. A observação de McCarthy me leva a pensar se Ethel e Julius Rosenberg foram realmente executados (em 19 de junho de 1953, um mês antes da derrota dos EUA) como bodes expiatórios para a derrota dos EUA na Guerra de Libertação da Pátria. Como o Grande Líder Generalíssimo Kim Il Sung disse: “nesta grande luta, nosso povo lutou decididamente como um em mente, sob a liderança correta do Partido e do Governo e, assim, resistiu honradamente às severas provações da guerra e obteve uma vitória histórica, infligindo uma derrota ignominiosa ao imperialismo dos EUA e seus cães de corrida.”

Os imperialistas dos EUA também sofreram derrotas políticas e morais irrecuperáveis. Foi uma grande vitória para o povo coreano e abriu uma nova era de luta anti-imperialista e anti-EUA.

Na verdade, a Coreia foi a guerra antes do Vietnã! O secretariado executivo da Organização de Solidariedade com os Povos da Ásia, África e América Latina disse, em 19 de junho de 1968: “sob a soberba liderança do Marechal Kim Il Sung, o Exército Popular e o povo da Coreia, que herdou as tradições da gloriosa Luta Armada Anti-japonesa, combateu heroicamente e derrotou o imperialismo norte-americano, em defesa da liberdade, da pátria e dos ganhos da revolução, contribuindo grandemente para a luta anti-imperialista de libertação nacional dos povos do mundo, para a luta pelos direitos humanos, pela paz na Ásia e no mundo. Esta vitória histórica do povo coreano mostrou que nenhuma força na terra pode pôr de joelhos um povo que luta pela independência e liberdade de seu país”.

A vitória na Guerra de Libertação da Pátria deveu-se à notável e brilhante arte de comando do Grande Líder Generalíssimo Kim Il Sung, um gênio estratégico militar e sempre brilhante comandante de ferro.

* O Dr. Dermot Hudson é Presidente do Grupo de Estudos da Ideia Juche da Inglaterra, Presidente da Associação para o Estudo da Política Songun do Reino Unido, Presidente da Associação de Amizade com a Coreia – KFA – do Reino Unido, Presidente do Comitê Britânico de Solidariedade pela Paz e Reunificação na Península Coreana e Secretário Geral Honorário do Comitê Internacional para o Estudo da Política Songun. Além disso, é Doutor em Ciências Sócio-Políticas pela Universidade Kim Il Sung da República Popular Democrática da Coreia.

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Centro de Estudos da Política Songun – Brasil

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